POR QUE ODIAMOS TANTO O QUE É NOVO?

A verdade é que ninguém gosta de inovação. Eu não estou falando de “novidade”. Isso todo mundo curte. Eu estou falando de “inovação”. Aquela que tira o chão debaixo dos nossos pés.

Novidade é um jeito novo de você brincar com seu brinquedo antigo. Inovação é a troca do brinquedo com o qual você estava acostumado, por outro completamente novo, que você não conhece e que lhe desafia.

 

Novidade não ameaça ninguém e ainda por cima traz para a vida da gente um temperinho novo. Inovação impõe ruptura. Desengate. Inovação põe fim ao passado e decreta o futuro. Inovação dá medo. Ela põe por terra os paradigmas que ajudavam a organizar a nossa existência e a ordenar o nosso raciocínio. Por isso são bem poucas as pessoas que convivem bem com a inovação e com os solavancos que ela produz.

 

A inovação só ganha adeptos, e só passa a ser admirada, quando ela se torna o novo paradigma. Parece contraditório – e é. Nós vivemos de inventar o novo. Mas, ao mesmo tempo, adoramos nos agarrar a uma tradição, a um jeito testado, seguro e aprovado de fazer as coisas.

 

A maioria de nós gosta mesmo é do que está bem estabelecido. Tudo que não é familiar nos gera desconfiança e desagrado. O novo nos coloca em risco. E nós somos avessos ao risco. Nós flertamos com o vento no rosto, mas nós gostamos mesmo é do ter os dois pés bem plantados sobre a terra. Nós piscamos o olho para o charme dos outsiders, mas todo mundo quer mesmo é estar por dentro, é estar incluído, é ser amigo do dono e ter o nome na lista.

 

O que nos deixa contentes e o que nos faz dormir tranquilos é aquilo que dá certo, aquilo que já foi comprovado, aquilo que os outros recomendam, aquilo que não nos tira da zona de conforto. Eis a verdade como ela é: inovador mesmo é o primeiro ser humano que saiu da caverna e provou uma ostra. Esse sim era um inovador.

 

A inovação só é tolerada entre nós porque ela carrega em si a chance de virar o novo padrão. E nós somos escravos do padrão. É o medo que nós temos de que a inovação dê certo que faz com que nós a admitamos, mesmo a contragosto, em nossas vidas. Não fosse isso, a maioria de nós baniria a palavra “inovação” do seu vocabulário e do seu convívio.

 

Tanto é assim que, quando a inovação não dá certo, ela vira chacota. Ou seja: no fundo torcemos para que ela não funcione e para que tudo continue do jeito que sempre foi. Quando a inovação não vinga, ela recebe de nós todo o sarcasmo que sempre quisemos dedicar a ela de peito aberto. Porque a inovação nos faz sofrer com a promessa constante de desintegrar, de uma hora para outra, tudo aquilo que a gente considerava sólido, tudo aquilo que nos permitia respirar tranquilos, vendo o mundo passar em câmera lenta pelo retrovisor.

 

 

Adriano Silva é jornalista, publisher do Projeto Draft e autor dos livros O Executivo Sincero (que dá nome à sua coluna na rádio CBN) e Ansiedade Corporativa.

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