A vida e o mundo estarão em contínua mudança e transformação, isso é fato. Cada vez mais precisaremos ser ágeis em repensar nossos planejamentos de curtíssimo prazo em função de acontecimentos que não controlamos. Quer dizer, quem ainda acredita que controla algo – ou alguém – já não vive o mundo real.
Precisamos ressignificar o que temos vivido, sem desprezar o que foi construído até aqui, nem perder nossa essência e nossos valores.
Necessitamos estar abertos e disponíveis para os aprendizados, sejam eles oriundos de vivências nossas ou de outras pessoas. Mais que o saber ouvir, o sentir nos guiará de forma mais diretiva e orientada, em busca do que realmente é essencial. Desapegar do poder, da sabedoria plena, do individualismo, do egoísmo, trocar o ter e/ou o ser pelo estar, exercitar a empatia, ter atitudes que favoreçam e protejam o outro, tudo isso fará a diferença.
A diferença para si mesmo impactará mudanças positivas no
comportamento do coletivo e, acima de tudo, nos preparará
para novas ondas de pandemias, com seus impactos
para as economias globais.
No último dia do ano, nenhum dinheiro, nenhum grande valor, nenhum poder, nenhum cargo comprará nossa saúde. Todos, de alguma forma, estaremos próximos de quem amamos ou de quem conseguimos estar nesse momento. Muitos de nós não terão companhia, a não ser a presença espiritual de um ente querido ou de um ser supremo, que eu aqui denomino “Deus”, mas que se faz presente a cada um segundo seus propósitos e sua própria concepção de fé.
Os planos de réveillon tiveram que ser postergados, assim como a tão sonhada viagem ou qualquer outro desejo que remeta à ideia de estarmos reunidos com muitas pessoas.
Não se trata de uma reflexão propriamente filosófica,
mas cuja profundidade está acessível apenas àqueles
que, pautados na fé, estão abertos a novas experiências,
uma vez que acreditam ser esse um movimento de
evolução espiritual. Creem, igualmente, que a fé nos conforta
e tem o potencial de preencher nossos corações com aquilo
que nos falta hoje – e que poderá nos faltar ainda por longos tempos.
Pela primeira vez não pude escolher com quem estar na festa da passagem do ano. Não foi por falta de vontade ou qualquer outro motivo trivial, mas pela consciência de que preciso proteger aqueles que amo. Essa racionalidade ganhou força a partir do momento em que fui acometida pelos sintomas do vírus. Passarei o ano novo reclusa, escrevendo, aprendendo, orando e desejando bons fluidos para o universo e para as pessoas, desejando que possamos refletir profundamente e aprender com essa pandemia.
Vivemos um hiato, um tempo em que a vida parece ter
entrado em suspenso.
Na verdade, estamos tendo oportunidade de pensar na forma de existência que vínhamos tendo até o início da pandemia. Curiosamente, ela nos dá tempo, e nós podemos utilizá-lo da forma que quisermos. Talvez o melhor a fazer é investir esse tempo para aprender coisas novas, ler, sentar-se no jardim e apreciar as flores e o cantar dos pássaros, dar um telefonema para quem não tínhamos tempo ou simplesmente fazer nada, cuidando assim de desacelerar. Penso que devemos tratar o tempo como uma joia rara ou uma aplicação financeira que renderá frutos, usando-o para refletir sobre nossas atitudes. Podemos investi-lo para perdoar o que, a princípio, era imperdoável; para resgatar familiares e amigos distantes, que a correria do dia a dia não permitia o convívio próximo; para fazer novos amigos ou, quem sabe, conquistar um novo coração.
Agora, dispomos de tempo, e a falta dele não é mais desculpa.
O tempo é apenas o anfitrião do futuro, um futuro que já
começou há tempos! Se essa realidade lhe escapou,
aproveite então o seu tempo para contemplá-la, pegando carona
em sua longa cauda para seguir adiante.
Eu, otimista que sou, estou grata a Deus e ao universo pela simples possibilidade de viver. E viver da maneira como sempre o fiz, com intensidade, saboreando cada etapa e abrindo o coração, os ouvidos, os braços e os abraços para receber e aprender.
Feliz ano novo.
Lady Morais – 31 de dezembro de 2020.
https://www.linkedin.com/pulse/o-tempo-anfitri%25C3%25A3o-do-futuro-lady-morais