*Por Lady Morais
Acordei com uma mensagem em meu WhatsApp: “Duas pessoas da família do bloco x e apt. y testaram positivo”. Imediatamente me deparei com o “Coronavírus” como meu vizinho. E me perguntei: e agora? Na sequência, recebo uma segunda mensagem – dessa vez de outra vizinha: “Você viu a mensagem da administração? Tem pessoas que testaram positivo no seu bloco”.
Senti uma mistura de necessidade de cuidado extra comigo mesma, ao mesmo tempo de alerta e preocupação com o vírus se espalhando pertinho de nós. E me chamou atenção que em nenhum momento havia qualquer preocupação com os vizinhos que testaram positivo.
Refleti e, como muitos de nós, tenho respeitado as regras do meu condomínio, as recomendações de nossos governantes e as regras e alertas que os cientistas e médicos nos passam. Ou seja, tenho feito a quarentena que já dura mais de três meses. Imediatamente, pensei em me conectar com as pessoas que testaram positivo do meu bloco.
A minha primeira ação, depois de processar rapidamente tudo, foi fazer um bilhete simples, direto e carinhoso e colocar debaixo da porta desses meus vizinhos. Como se trata de uma família que ainda não tenho amizade (aliás, coisa rara na minha vida), apresentei-me dizendo o meu nome, meu telefone celular e as seguintes palavras: “Sou vizinha de vocês, estou aqui para ajudar, se precisarem de qualquer coisa que eu possa lhes ser útil contem comigo: supermercado, farmácia, hospital”.
Algumas horas depois recebi uma linda mensagem no meu celular: “Bom dia, muito obrigada pelo seu carinho. Estamos bem, mas você não imagina o quanto é bom se sentir cuidada e amparada”.
Aquela mensagem foi como um ABRAÇO. Senti-me recompensada. E me deparei com as oportunidades que esse momento de pandemia, de crise nos proporciona. O meu interesse genuíno pelas pessoas, me fizeram esquecer o medo de me contaminar para imediatamente acolher e ajudar.
As nossas escolhas direcionam nossas vidas.
É por histórias como essa e outras vivências que quero, aqui, compartilhar com você um olhar, ou o meu olhar. A visão de uma pessoa otimista. Tenho o costume de dizer: posso lhe contar minha história de vida e fazê-lo se emocionar, gargalhar e comemorar comigo as vitórias conquistadas; ou posso fazer você chorar com a mesma história focando nos desafios e perdas que tive ao longo desse período.
Adivinhe que caminho escolho sempre? Quem me conhece acertaria essa de primeira: otimista que sou, sempre vou acreditar que tudo que passo e vivo tem um propósito, uma oportunidade de aprendizado e, consequentemente, a aquisição de novos conhecimentos.
Os resultados? Aumento do meu repertorio, o que me torna mais forte e ainda mais otimista. E isso sem perder de vista a simplicidade e a crença de que precisamos fazer o nosso melhor por nós mesmos e pelo outro, acreditando sempre no potencial de cada ser humano.
Liderança: somos seres únicos na vida e na carreira.
Aqui faço uma analogia aos movimentos que fazemos ao liderarmos a nós mesmos e ao liderarmos pessoas e equipes, seja nas organizações, nas comunidades, seja em nossas famílias. Acredito que a liderança floresce em momentos de crise, potencializando nossa capacidade de criar e inovar tomando decisões pautadas na experiência passada, mesmo que a crise que vivemos da Covid-19, hoje, seja uma experiência jamais vivida.
Experimentamos essas dicotomias no papel da liderança. Ora ela inspira, é corajosa, é otimista, constrói pontes de confiança entre as pessoas, entre os pares, mas também é a mesma que tem medo, fica insegura “às vezes”, não tem todas as repostas. Entretanto, sabe assumir que “não sabe” e que está aberta para aprender e ensinar constantemente.
É a mesma liderança que compartilha e, ao fazer isso, cresce e se torna protagonista de sua própria vida e estimula o mesmo protagonismo por outros. Tudo é questão de ESCOLHA. A partir do nosso olhar podemos despertar para o novo, para o aqui e agora, para a transformação, para a aquisição de novos valores, para o que verdadeiramente importa. E nessa toada, descobrimos que mesmo em momentos de crise há oportunidades de crescimento e aprendizado. E o que descobrimos nesse momento que nos traz otimismo e esperança?
Ao avaliarmos o atual momento de crise, a primeira grande conquista é a do TEMPO. Ao trabalharmos de casa – é bem verdade que temos trabalhado mais – economizamos o nosso tempo. Não precisamos nos deslocarmos no trânsito, pegar aviões constantemente, esperar longas horas em filas de restaurantes.
Ao contrário, podemos ir e vir em frações de segundos. Apenas clicando na tela do celular ou do computador, entramos em uma reunião e partimos para a próxima em um piscar de olhos. Podemos visitar amigos, colegas de trabalho, familiares, em qualquer lugar do mundo. Está tudo na palma da mão pelo celular ou notebook. Com isso, o nosso tão precioso TEMPO se torna longo e nos permite fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
A segunda é graças à TECNOLOGIA, que ajuda o TEMPO parecer infinito. Quem acreditaria que as empresas e as pessoas fossem capazes – para aqueles que ainda não tinham experimentado – de fazer o home office funcionar, o que foi conseguido em pouquíssimos dias ou mesmo horas.
Imagine uma organização, com muitos colaboradores e escritórios pelo Brasil e o mundo, acordar todo conectado à distância?
Essa é a magia da tecnologia. Uns acreditam que somos escravos dela; eu, com o meu olhar, acho-a um verdadeiro espetáculo, porque me aproxima das pessoas que estão longe, coloca-me em contato com a minha família o tempo todo e me traz de volta amigos de longas datas com os quais não encontrava há tempos. Tenho tido mais contato com minhas equipes agora, em reuniões virtuais, que na vida presencial. Agora, com os happy hours virtuais, conseguimos conectar uma turma que está não só em diferentes estados, mas em diferentes países. Quando se pensou isso? E eu, otimista por natureza, já patrocinei vários encontros virtuais, o que têm me dado boas energias, gargalhadas e lembranças para me fortalecer dia a dia.
A terceira conquista é a VELOCIDADE. Teria que inventar uma nova palavra para dizer que a própria velocidade se intensificou. Como? As decisões organizacionais, com a crise, não tiveram tempo para serem planejadas. No risco total, tivemos que tomar decisões para cuidar e salvar vidas, e isso foi o bastante para acelerar tudo.
Essa aceleração se deu de tal forma que, agora, precisamos refletir sobre a necessidade de diminuí-la para alguns temas, por exemplo, o trabalho em excesso, a falta de medida e limites para os horários. As pessoas cobram projetos e tarefas umas às outras, à noite, de madrugada, no fim de semana. E aqui ficam novos aprendizados acerca dos limites que precisamos impor de forma verdadeira e genuína sem medo de nos expormos – escolhas.
Diria que aqui entra a EMPATIA. Algo constante do meu dia a dia que aprendi com meus pais, que é valor para mim. Exercito-a o tempo todo, inclusive abri este artigo falando sobre isso, ao me colocar no lugar do outro e oferecer a ele o que eu gostaria que me ofertassem.
Outra experiência que vivi, em que a empatia nitidamente aflorou, foi com meus alunos do MBA. Passamos longas horas, no período da noite, e os meus alunos não queriam terminar o “bate-papo”. Sim, foi nisso que nossas aulas do MBA se transformaram em um bate-papo virtual de profissionais, que trocam experiências, no qual uns aprendem com os outros e, com isso, exercitamos bastante a liderança situacional. Outra vantagem desse momento de crise.
Se não fosse o TEMPO, aliado à TECNOLOGIA, em alta VELOCIDADE e intensidade, exercitando a EMPATIA, não teríamos conseguido. Eu pude dedicar mais tempo à preparação das aulas, trazer os assuntos à luz do momento presente: a crise, discutir o papel do líder, as competências necessárias para superarmos os desafios do momento e já olhar para o futuro, ainda incerto, mas real, dentre outros temas. *Não só… Ainda pude contar com profissionais, melhores que eu, amigos queridos que dedicaram tempo para contar suas histórias e suas experiências aos meus alunos durante as aulas. E, em uma dessas palestras, tivemos a honra de nos ser ofertado três consultorias de carreira gratuitas. Para a surpresa de todos, uma das ganhadoras, exercitando a EMPATIA, ofertou o seu brinde a outra aluna que se encontrava desempregada naquele momento. Podem imaginar a emoção que tomou conta de todos nós? Vivenciamos ao vivo o que era ensinado nas aulas. *Destaco agora a COLABORAÇÃO. Jamais vivenciamos um momento onde todas as pessoas, mais amigáveis ou não, exercitaram a colaboração. Foram amigos e vizinhos fazendo pães, doces, bolos, máscaras e enviando para seus amigos; foi o trabalho voluntários de centenas de milhares de pessoas arrecadando produtos de higiene, limpeza, alimentação para socorrer as populações menos favorecidas. Muitos fazendo supermercados para outros.
Empresas investindo tempo e dinheiro para cuidar não só de seus colaboradores, mas também de suas famílias. Eu exercitei – e exercito – a consultoria pro bono, ou seja, tenho ajudado diversos profissionais e empresas de forma gratuita utilizando minha experiência e o meu tempo a favor do outro. Tenho me envolvido em tantos projetos que, ao final do dia, nem eu mesma sei como dei conta, mas me vem à mente a VELOCIDADE, a TECNOLOGIA, o TEMPO, a EMPATIA e a COLABORAÇÃO, e me sinto gratificada e feliz por essa doação.
E aqui fica uma pergunta: Será que teríamos crescido e aprendido tanto se não fosse a crise, se não fossem os desafios que, constantemente, temos nos deparado?
Na pandemia pude conhecer mais do outro. Participei de um evento da KROTON, o “Encare o desafio”, onde tive a oportunidade de falar para 10 mil pessoas ao vivo de diversas localidades do Brasil, e soube há dias que apenas uma semana após minha palestra, o programa já havia batido os cem mil acessos. Muito bacana! Isso só foi possível por esse momento. Alcançarmos diversas partes do nosso país levando conhecimento e informações. No mundo em que estávamos, talvez isso não fosse possível, pela simples falta de tempo ou de iniciativa. E veja que minha palestra foi em uma segunda-feira, às 17h. Incrível, não?
Outra grande vantagem desse momento de crise é que aumentamos o nosso NETWORK. Com um pouco mais de TEMPO e TECNOLOGIA, pudemos nos conectar com palestrantes ilustres do outro lado do mundo. Os webinars se tornaram protagonistas (até em excesso muitas vezes), mas nos colocou para assistir palestras com profissionais renomados e pessoas anônimas (até então), os quais enriqueceram nossas vidas com ensinamentos e experiências incríveis.
Os antenados, ao final dos webinars, já se conectaram com essas pessoas por meio das redes sociais e, especialmente, pelo LinkedIn nos projetando para o mundo, e não só em nosso país ou nas cidades em que vivemos. Eu, particularmente, tenho recebido conexões inimagináveis, o que tem me levado a ser cada vez mais otimista com a esperança e crença de que nas nossas ESCOLHAS construímos o nosso mundo e nossas vidas de forma mais sólida e colaborativa.
Neste artigo citei seis grandes vantagens do momento presente: o tempo, a tecnologia, a velocidade, a empatia, a colaboração e o network. Não são em si as únicas, pois eu seria capaz de escrever muitas páginas falando das oportunidades e aprendizados desse momento. Entretanto, quis ser breve e escrever o suficiente para compartilhar com você o meu olhar e levar otimismo e esperança de que o momento presente e o futuro dependem de cada um de nós, de nossas escolhas, decisões e repertório. O que eu puder contribuir – para o meu, para o seu e para o nosso crescimento – o farei acreditando que todo desafio é possível de ser superado, só depende da escolha de cada um.
O momento presente requer reclusão física para que nos mantenhamos
saudáveis. Mas o momento presente também tem nos proporcionado
pensar fora da caixa, ousar, experimentar e fazer novas conexões. É a
vivência que nos fará mais fortalecidos para o inesperado – “lifelong
learning”.