A PARTIR DO QUE VIVEMOS, ESTAMOS CRIANDO ESPERANÇA NAS NOVAS GERAÇÕES?

Não há como fugir desta dura realidade que estamos vivendo. A situação é crítica, no entanto, um comportamento recorrente que percebo é o de tentar camuflar essa realidade, ou também de apenas se buscar justificativas e culpados, perdendo a percepção do que está acontecendo de fato e a possibilidade de entender sobre como agir. 

Mas, além de encontrar culpados, já se perguntou internamente sobre o que há de contribuição própria para o que está ocorrendo hoje no Brasil? E a esperança: como vem alimentando esse potente motor capaz de nos alavancar das situações mais trágicas para uma ou várias outras chances de vida?

Vamos retomar um pouco aos fatos anteriores. Pode não parecer, mas o verdadeiro detonador dessa crise instalada no País não é a Covid-19. Na verdade, a pandemia só exacerbou e trouxe à tona outros elementos que estavam escondidos, como a obscena concentração da maior parte da riqueza em uma pequena parcela da população, a falta de investimento em saúde, educação, o desemprego, e o nosso retorno ao Mapa Mundial da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2018, levantamento que indica os países que possuem 5% ou mais de sua população em situação de insegurança alimentar grave.

E diante de um processo tão grave, nos perguntamos o que cabe às autoridades, à sociedade, aos órgãos competentes e aos demais atores desse cenário — questão que, obviamente, são indispensáveis. Mas, quando estamos falando do nosso ser, o papel exclusivo nessa vida que somente nós mesmos podemos cumprir, porque cada um de nós é único nesse mundo, temos uma pergunta muito mais valiosa: o que cabe a mim fazer?

Se você não está passando fome, não está sofrendo as consequências mais duras da pandemia, não observar o que está acontecendo ao redor e ficar tentando se esconder está longe de ser uma solução para continuar alimentando a esperança. É legítimo se alienar e investir no próprio desfrute, fechando os olhos para o mundo afora? Sim. Mas isso ajuda a preservar a esperança de tempos melhores? Evidentemente que não… Ou você se aliena em um casulo, ou, de fato, assume a realidade para, a partir daí, se criar esperança.

E O QUE É AFINAL A ESPERANÇA?

A esperança é uma perspectiva que você constrói de um momento melhor do que está vivendo agora. Essa construção precisa ser feita agora, mas temos grandes desafios em mãos. Um deles é a forma como estamos preparando a juventude para levar adiante esse tal projeto de prosperidade que precisamos estabelecer.

Enquanto que os millennials, que são os jovens nascidos por volta de 1980 a 1995, buscam mais qualidade de vida, consumo sustentável e significados quanto ao próprio trabalho, também são caracterizados como uma geração um pouco mais individualista e menos ligada às grandes questões da humanidade, de acordo com alguns especialistas.

Já a chamada geração Z, os jovens nascidos entre 1996 e 2010, vem apresentando algumas manifestações preocupantes. Se por outro estão mais engajados com pautas identitárias, querem falar sobre diversidade e se preocupam com questões globais, estão enfrentando problemas graves de relacionamento, se isolam cada vez por trás das telas, estão sofrendo mais transtornos mentais, como a depressão, e vêm incoporando um número também maior de tentativas de suicídio.

Ouço com frequência sobre o quanto eles estão desanimados e indiferentes, vivendo uma espécie de vazio, sem aquela gana de vida tão característica da juventude. Porém, é para essa juventude que precisamos entregar a esperança. E como gerar força para o grande motor da esperança, se esse motor não é mais o desejo de autossuperação que deveria estar movimentando os anseios desses jovens, já que estão passando pela vida sem causas? Como reacender essa chama, esse desejo de lutar pela sustentação do coletivo? E essa esperança que estamos tentando propagar, é com relação ao que mesmo?

Nossa esperança diz respeito à vida e ao planeta, ao significado da minha própria existência no mundo. Somos partes desse mundo, e, por isso, importantes. Portanto, o quanto estamos lembrando ao outro que ele é importante para esse mundo? E eu, o quanto estou me preparando para o significado da minha própria vida, ou ainda trabalhando ativamente para uma transformação da coletividade? O quanto estamos proporcionando essa busca por significados e dedicação à causas para as próximas gerações?

Precisamos lembrar que a grande aliança das gerações é em cima da esperança. É como uma missão que carregamos conosco por toda a vida e, depois, entregamos nas mãos das gerações mais novas. Como em uma troca de turno de hospital, no qual o paciente assistido é esse mundo que habitamos, compartilhamos com quem está chegando o estado de saúde desse mundo, que hoje está tão enfermo, as evoluções obtidas, os tratamentos realizados e os pontos de atenção. E a esse novo turno confiamos a continuidade da vida desse paciente, deixando nossas lições e essa tal esperança.

A esperança é a possibilidade, é a constatação de merecimento de uma vida melhor. Não é uma idealização ou somente um desejo: é uma condição que você coloca para que as pessoas possam ter um impulso, uma força para que consigam dar o próximo passo de onde elas estão.  É um mecanismo que permite criar novos momentos os quais possuem a capacidade de fazer a vida como algo belo e bom, e que, portanto, não posso largar no meio do caminho.

Por meio da esperança, conseguimos olhar para alternativas, novas possibilidades e acreditar em nossas capacidades. Ela permite, principalmente, pensar que não está tudo perdido e que existem soluções que podem ser suas. Ela te leva à colaboração, a tudo o que a gente tá querendo que o mundo seja.

Rosa Bernhoeft

Dessa forma, portanto, a responsabilidade de levar esperança às pessoas não pode estar somente nas mãos das liderança. Na verdade, todos nós precisamos resgatá-la internamente. Mas, como que conduzo com esperança nesse grande vale de desespero? Como dissipar essa mensagem de esperança por algo melhor?

Penso que a grande jornada que nos toca nesse momento é conduzir as pessoas ao redor para essa possibilidade, é convidar para esse estado de visualização de novas perspectivas. Esse é nosso convite, que pode ser feito a quem for que estiver ao lado: o cônjuge, o neto, o sobrinho… E para isso, precisamos olhar para essa realidade, assumi-la e enfrentá-la verdadeiramente, sem esconderijos. A situação é bastante complicada, mas ela não é única e eterna, pois as novas oportunidades precisam ser construídas. Precisamos falar sobre a realidade, discutir caminhos e sobre como percorrê-los. Não basta apenas orientar e contar com os próximos passos da juventude. A mudança começa agora. É hoje que começo a construir o meu plano de esperança e convido a quem estiver ao meu lado a construir um novo mundo comigo.

Por Rosa Bernhoeft

Especialista em liderança e gestão de altos executivos, sócia-fundadora da Alba Consultoria, criadora de conceitos e metodologias para gestão de carreira, treinamento e desenvolvimento.

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