VIDA PÓS PANDEMIA E NOVAS RELAÇÕES ORGANIZACIONAIS

Desde o início da pandemia, nos perguntamos sobre quando vamos voltar à nossa vida normal. Mas, após quase dois anos imersos nesse desafio mundial, o que posso dizer é que: esqueça, não teremos mais uma série de coisas que eram normais, ao menos da maneira que conhecíamos, já que muitos paradigmas foram quebrados, novos dilemas surgiram e novas formas de relacionamento foram sendo estabelecidas.

Por enquanto, mesmo com o avanço da vacinação no Brasil e no mundo, há ainda milhões de não vacinados. Dessa forma, já estamos diante da quarta onda da covid-19, com o exponencial aumento de casos na Europa, e ainda diante da mais nova variante de preocupação do vírus, a Ômicron. Por isso, ainda viveremos por um bom tempo esse processo dual de aumento e diminuição de casos de covid-19, aberturas e fechamentos, retorno ao presencial e períodos estendidos de home office, volta ou não às aulas, ganhos e perdas, sobrevivência e lutos.

Mas, o que já é possível dizer que mudou, ou seja, o estado que alcançamos para o que podemos dizer ser um “novo normal” foi o despertar de algo que estava meio adormecido em nós. Foi o despertar da consciência de que a vida se sustenta pela maneira com que eu a sinto. E esse é um tema fundamental o qual, se pararmos para pensar, era um elemento praticamente descartado dentro das empresas, das organizações, nas relações pragmáticas de trabalho. Trazer questões dos sentimentos, do coração para dentro dos negócios, era algo descartado.

Mas, essa questão acendeu, apareceu, e você não consegue mais controlar isso. Estamos falando de um estado de saúde que vai muito além da ausência de enfermidade. Desde 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a qualidade de vida como um conceito multidimensional envolvendo os aspectos de saúdes física, mental, social e espiritual – para esta última, é claro, entende-se a espiritualidade como a busca humana que ocorre nas mais diversas culturas de busca por significados na vida, o que não, necessariamente, significa ter uma vivência religiosa.

No entanto, o que as pessoas estão vivendo agora é um momento de profundo desequilíbrio, o que tem levado a tantos adoecimentos decorrentes das condições e estilo de vida. Todo esse cenário nos leva para uma necessidade coletiva de aprender a lidar com o novo. Eu preciso responder, me preparar. Mas, qual é esse novo? Nós ainda não sabemos.

Essa incerteza nos cria oportunidades, assim como uma tensão imensa. Muitas coisas que vínhamos fazendo antes tivemos que abrir mão durante a pandemia. Tivemos que fazer muitas coisas diferentes, e ainda esquecer o que sabíamos fazer. Portanto, alguns saberes precisaram ficar de lado, ou passaram a ficar obsoletos, ou ainda tiveram que ser guardados porque não estavam servindo. E agora? Para qual caminho seguimos?

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Empatia e saudade do presente

Não podemos deixar de falar sobre o “novo normal” sem deixar de refletir sobre o papel da empatia no momento atual, que se tornou um mecanismo ainda mais indispensável para sobrevivermos. A empatia vem da condição de eu me colocar em um determinado lugar e sentir o que essa pessoa está sentindo. E se antes eu sentia essa empatia somente quando me encontrava pessoalmente com alguém, hoje já passo a sentir por uma dor coletiva. Agora, não apenas sinto como também devo me preparar para poder agir dentro de uma circunstância que pode ser minha no futuro.

Ou seja, antes eu poderia ser empática em uma circunstância em que eu não viveria. Porém, hoje, me torno empática pela minha própria possibilidade de sofrimento. Dessa forma, chegamos a um estado de saudade do presente, do que poderíamos estar desfrutando, caso não estivéssemos nessas condições tão cruéis. Um estado de lamento, de perda, de constante ameaça.

A saudade do presente é uma consciência cada vez maior da necessidade de ter uma vida melhor, com mais saúde, mas que não está sendo permitido. E como sair desse impasse? Como viabilizar a possibilidade de ouvir o outro, de estar com o outro? Vem surgindo uma necessidade forte em cada um de nós todos de fazer esse encontro, de estabelecer uma relação muito mais profunda e íntima de aceitação, de troca.

E como atender esses anseios no universo das corporações? Como podemos ser ouvidos verdadeiramente em nossas diversas relações, sejam elas profissionais, amorosas, amigáveis, colaborativas etc? Se eu te ouço, você me ouve também? Como ficarão nossos vínculos de irmandade? Aqueles no qual, somente de estar ao lado de alguém, é capaz de estabelecer uma profunda comunicação com apenas um olhar?

“Precisamos dessas relações íntimas, desse companheirismo, de nos sentirmos protegidos quando estamos com alguém, quando possuo uma troca saudável, porque estamos vivendo um período terrível de solidão. O ser humano precisa sempre contar com alguém, e isso continua tendo relação com o nosso estado de saúde, de bem-estar, de plenitude. É algo que vai além de buscar felicidade. É simplesmente da nossa natureza estabelecer conexões e elas precisam ser saudáveis.”

Rosa Bernhoeft

E essa necessidade vital precisa ser considerada nas novas relações e dinâmicas de trabalho. A ameaça de morte está ao nosso lado, vivemos isso na máxima potência e, por mais que exista o negacionismo, a preocupação com a vida, e, especialmente, com o viver, é uma questão latente no dia a dia de todos.

Por Rosa Bernhoeft

Especialista em liderança e gestão de altos executivos, sócia-fundadora da Alba Consultoria, criadora de conceitos e metodologias para gestão de carreira, treinamento e desenvolvimento.

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